Desde pequena Svetlana só tinha conhecido uma paixão: dançar
e sonhar em ser uma Gran Ballerina do Bolshoi Ballet.
Seus pais haviam desistido de lhe exigir empenho em qualquer
outra atividade.
Os rapazes já haviam se resignado: o coração de Svetlana
tinha lugar para somente uma paixão e tudo mais era sacrificado pelo dia em que
se tornaria a Bailarina do Bolshoi. Haviam criado um apelido especial para ela:
lankina que no antigo dialeto queria dizer "a que flutua". Era uma
forma carinhosa de brincar com a bela e talentosa Svetlana, pois a palavra
também podia significar "a que divaga", ou "que sonha
acordada".
Um dia, Svetlana teve sua grande chance. Conseguira uma
audiência com Sergei Davidovitch, Ballet Master do Bolshoi, que estava
selecionando aspirantes para a Companhia. Dançou como se fosse seu último dia
na Terra. Colocou tudo que sentia e que aprendera em cada movimento, como se
uma vida inteira pudesse ser contada em um único compasso. Ao final,
aproximou-se do Ballet Master e lhe perguntou:
"Então, o Sr. acha que eu posso me tornar uma Gran
Ballerina?"
Na longa viagem de volta a sua aldeia, Svetlana, em meio as
lagrimas, imaginou que nunca mais aquele "Não" deixaria de reverberar
em sua mente. Meses se passaram até que pudesse novamente calçar uma sapatilha.
Ou fazer seu alongamento frente ao espelho.
Dez anos mais tarde Svetlana, já uma estimada professora de
ballet, criou coragem de ir à performance anual do Bolshoi em sua região.
Sentou-se bem a frente e notou que o Sr. Davidovitch ainda era o Ballet Master.
Após o concerto, aproximou-se do cavalheiro e lhe contou o quanto ela queria
ter sido bailarina do Bolshoi e quanto doera, anos atrás, ouvir-lhe dizer que
não seria capaz.
"Mas minha filha, eu digo isso a todas as
aspirantes" respondeu o Sr. Davidovitch.
"Como o Sr. poderia cometer uma injustiça dessas? Eu
dediquei toda minha vida! Todos diziam que eu tinha o dom. Eu poderia ter sido
uma Gran Ballerina se não fosse o descaso com que o Sr. me avaliou!"
Havia solidariedade e compreensão na voz do Master, mas não
hesitou ao responder: "Perdoe-me, minha filha, mas você nunca poderia ter
sido grande o suficiente, se você foi capaz de abandonar seu sonho pela opinião
de outra pessoa."
(Autor desconhecido)
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